venerdì 3 settembre 2010

O ATOR

O ATOR

Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem
duro e cínico o suficiente para ele permanecer indiferente às desgraças ou alegrias
coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave
onde ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu na sua vida.

Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endurecer, de
forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade e por aí despertá-lo,
tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que por desencanto ou medo se
sujeita, e inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.

Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos onde
não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e autores, têm esse dom. Por isso
o artista do teatro é o ator.

O público vai ao teatro por causa dos atores. O autor de teatro é bom na medida
em que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas o ator
tem que se conscientizar de que é um cristo da humanidade e que seu talento é muito
mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator
de verdade vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que
o ator tenha muita coragem, muita humildade e, sobretudo um transbordamento de
amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de suas
personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano
não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de
ética pretendem.

Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de
euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como
viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos
de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de
caráter que seu personagem tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos
martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma,
sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano
reprimido, violentado.

Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da
alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e
caminhe no rumo de um mundo melhor que tem que ser construído pela harmonia e
pelo amor.

Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem ter não é o
dinheiro, não são os aplausos – é a esperança de poder rir todos os risos e poder chorar
todos os prantos. Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto
são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por
eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado
por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica

Arte em Cena

Do mestre Plínio Marcos

2 commenti:

  1. Oi Paulinha, muito legal esse texto. Sempre olhei o ator como altruísta. O que o ator faz, assim como um atleta, é mostrar os limites, e as vezes a falta deles, na jornada humana para que a humanidade nunca pare de evoluir e de se conhecer. Beijo grande.

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